Lombalgia e Lombociatalgia

Conhecida por sua versatilidade, ora ereta e firme, ora maleável e adaptável, a nossa coluna vertebral também protege a medula, um tubo com 10 bilhões de células especializadas para estabelecerem uma via de comunicação nervosa entre o corpo e os centros de comando inteligentes no cérebro humano.
As dores nas costas, em geral*, provenientes de vícios posturais são bastante comuns e a coluna lombar é a região do aparelho locomotor que representa o maior número de queixas, crescendo em média por ano, 14 vezes acima do aumento demográfico.
Lombalgia é uma dor que pode tanto ser aguda como crônica e incomoda entre 65% e 80% da população mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde. Ela se inicia nas costas, nas regiões inferiores da coluna lombar e pode se irradiar para uma ou ambas as nádegas ou para as pernas através do nervo ciático. A lombociatalgia é diagnosticada quando o paciente refere dor em região lombar associado a irradiação para o(s) membro(s) inferior(es).
Denominada na fase aguda como "dor funcional", representa aquela população que ainda não apresenta alteração dos elementos que compõem a coluna, como vértebras, discos intervertebrais e ligamentos.
Formada por cinco vértebras de volume e com diâmetro transverso maior que no sentido antero-posterior e anatomicamente compreendida entre a coluna torácica e a pélvis, de forma geral, a coluna lombar é o primeiro segmento vertebral a apresentar deslocamento do centro de gravidade, em virtude do desequilíbrio postural.
Se a situação aguda é recorrente, a acentuação da dor é uma questão de tempo, pois a contratura muscular que ocorre como mecanismo de defesa organismo, em geral permanece e as estruturas não tem como resistir a um quadro inflamatório permanente.

Como no nosso corpo nenhuma mudança ocorre de forma isolada, podemos considerar como consequência, outras alterações comuns, tais como, hiperextensão dos joelhos, valgização dos joelhos, redução do arco plantar, anteroversão pélvica, tensão na fáscia lombar e musculatura, danos nas estruturas músculo-esqueléticas (discos, ligamentos, articulações interfacetárias, entre outras) responsáveis pela mobilidade da região, má circulação na região e nos membros inferiores com retenção hídrica e compressão de vasos e nervos com decorrências de alcance inimaginável.
Afetando principalmente adultos no alge da sua vida produtiva, ela pode decorrer de um conjunto de causas como, fatores comportamentais (fumo, e baixa atividade física), exposições insalubres nas atividades cotidianas (trabalho físico pesado, vibração, posição viciosa, movimentos repetitivos) e outras (obesidade, morbidades físicas, como a dor isquiática, a sacroileíte e a osteoartrite). O sobrepeso e o sedentarismo é um agravante, devido à instabilidade na coluna que provoca e consequente aumento da lordose lombar. Assim, além de controlar o peso, é importante praticar com regularidade, atividades físicas como o Pilates e o Yoga que aumentam a consciência postural e fortalecem os músculos estabilizadores da coluna e pélvicos.
Compreender que a saúde básica da coluna vertebral depende primordialmente dos apoios corretos dos pés no chão ou dos ísquios na cadeira e da horizontalidade do olhar é primordial para evitarmos a aparição de lesões osteo-articulares de origem mecânica, que resultam de maus hábitos posturais que se somam aos movimentos repetitivos do cotidiano, é fundamental.
A manutenção desta viga dinâmica é feita por um conjunto antagônico e sinérgico de esforços musculares que originaram às curvas fisiológicas de adaptação ou cifoses e lordoses. O funcionamento articular depende do equilíbrio entre a força muscular e sua flexibilidade. Qualquer distúrbio que rompa este ciclo de equilíbrio e segurança articular pode interferir negativamente no funcionamento do mecanismo articular, produzindo dor.
Diante desse quadro, inicialmente atua-se na estabilização da coluna lombar aliviando as dores através de exercícios de estabilização. Em um segundo momento, inicia-se a recuperação da movimentação natural do tronco, perdida devido à lesão, compreendendo o "CORE", ou seja, ombros, abdomên, pélvis, quadris, joelhos e tornozelos. A partir de dado momento, o aluno inicia o programa de treino regular, ou seja, diferentemente dos programas de fortalecimento convencionais repetitivos e que treinam os músculos isoladamente. Nas nossas aulas os desafios são distintos a cada aula, observando-se ganhos que vão além do fortalecimento dos músculos do "CORE", mas no equilíbrio, na coordenação, na agilidade, na potência e na postura.
* Além do tensionamento causado pelo desequilíbrio postural, podemos considerar outros fatores que levam à dor:
Distenção muscular: Ocorre mediante a prática de esportes que exigem movimentos rotacionais bruscos do tronco, acima do limite fisiológico. Nesses casos, o treino e aprimoramento das técnicas de movimento, os fortalecimentos e os alongamentos devem ser rotineiros.
Dor devido ao excesso de uso (uso supra-fisiológico**): Quando a destruição prevalece sobre a reconstrução tecidual, a dor é o primeiro aviso de que, caso o estímulo continue, haverá falência estrutural, como fraturas por estresse, ruptura ligamentar e hérnias de disco. É uma causa muito frequente entre atletas e esportistas que se propõe a quebrar os próprios limites em curto espaço de tempo.
Síndrome Miofascial: Ocorre devido ao tensionamento e estímulo constante, devido à hiperatividade e sobrecarga mecânica, seja por desequilíbrio postural, seja por esforços repetitivos. Dessa forma, o fator emocional está presente na maioria dos casos. Perfis psicológicos depressivos e ansiosos são os mais frequentes. O diagnóstico é eminentemente clínico e, na coluna lombar a dor pode irradiar-se para os membros inferiores, mimetizando uma crise ciática.
Hérnias de disco: Ocorre devido a ruptura da "capa fibrosa" dos discos intervertebrais e o extravasamento do seu "conteúdo", comprimindo estruturas adjacentes e pressiona estruturas do sistema nervoso, como raízes nervosas, podendo causar perda de força e sensibilidade.
Fissuras de disco: Seu mecanismo de formação é o mesmo da hérnia discal. Porém o "gel" não extravasa. A dor é muito intensa e há contratura muscular reflexa. Postula-se que a posição fixa, mantida e repetitiva da coluna lombar é um fator desencadeante, pois haveria má nutrição do disco, áreas de necrose focal e ruptura.
Fraturas vertebrais: Ocorre por traumas de alta energia, como em acidentes que podem causar desde uma fissura de qualquer componente da vértebra até a explosão da mesma, com ou sem danos neurológicos. Também pode ocorrer por micro-traumas de repetição, enquadrando-se nas lesões por "overuse", ou seja, uso supra-fisiológico**.
Espondilolistese: Quando ocorre fratura da estrutura conhecida como "pars interarticularis" e a vértebra "escorrega" para frente, devido aos movimentos de flexão e extensão extremas do tronco.
Recomendações para o dia-a dia:
Na Posição em Pé
Sapatos que auxiliam no apoio correto dos pés;
Mantenha os ombros alinhados;
Mantenha a cabeça ereta, como se estivesse olhando para o horizonte;
Mantenha os joelhos estendidos, mas não travados para que o peso do corpo se distribua sem forçar a coluna;
Evite a mesma posição, por longo período de tempo.

Na Posição Sentada
Evite a mesma posição, por longo período de tempo;
Não cruzar as pernas, devido ao comprometimento da circulação e desalinhamento pélvico;
Sente com os joelhos abaixo da linha do quadril com os pés apoiados no chão;
Mantenha a coluna ereta e os ombros para trás e cotovelos devem ficar relaxados;
Use um apoio para as costas, como uma toalha enrolada ou um travesseiro.
Levante-se com frequência e apenas usando o movimento das pernas.
Na Posição deitada

De lado, tente manter o corpo alinhado, com os joelhos levemente dobrados e um travesseiro separando-os;
De costas, coloque um travesseiro sob os joelhos, a fim de elevá-los;
Dormir de bruços é a forma mais condenável.
Estudo Clínico:
Segundo uma revisão científica publicada na edição de fevereiro de 2018 no periódico científico "The Spine Journal", pesquisadores do Departamento de Cirurgia Ortopédica da Universidade de Washington revisaram 20 artigos científicos que analisaram diferentes intervenções contra a dor lombar em pessoas com idade entre 18 e 65 anos.
Os trabalhos avaliaram: o uso de suportes para as costas, a reeducação postural, o fortalecimento com pesos, o uso de palmilhas e métodos de exercícios sem carga, o qual se mostrou mais eficiente (45 a 60 minutos de exercícios supervisionados, duas vezes por semana).
Fonte:
https://www.thespinejournalonline.com/article/S1529-9430(17)30987-7/fulltext , The importance and impact of patients' health literacy on low back pain management: a systematic review of literature, February 2018, Volume 18, Issue 2, Pages 370–376.
Chahade WH, Ribeiro SMT & Teres RB – Como diagnosticar e tratar lombalgias. Rev. Bras. Med. 1984; 41: 249-61.
Antonio SF, Szajubok JCM & Chahade WH – Como diagnosticar e tratar lombalgias e lombociatalgias. Rev. Bras. Med 1995; 52: 85-102.
Borestein DG – Low back pain. In: Klippel JH & Dieppe PA – Rheumatology. London Mosby-Year Book Europe Limited, 1994.
Cecin HA – Consenso Brasileiro sobre lombalgias e lombociatalgias. São Paulo. Sociedade Brasileira de Reumatologia. Comitê de Coluna Vertebral. 60 pags., 2000.
Claudia B., c.pilatesyoga@gmail.com
Pós-Graduação: Método Pilates – Fisioterapia Esportiva/ Certificação: Yoga – Treinamento Funcional – Treino em Suspensão